Uma visão sobre a mudança de foco da farmácia hospitalar brasileira

Nos últimos anos as transições demográficas e epidemiológicas impuseram novas exigências sobre prestação de serviços de saúde. Desafios como o envelhecimento da população, a mudança nos perfis de doenças, mudanças no panorama da área farmacêutica, geraram a necessidade da criação de novos modelos a...

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Detalles Bibliográficos
Autor principal: MARCELO POLACOW BISSON
Formato: article
Lenguaje:EN
PT
Publicado: Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde 2019
Materias:
Acceso en línea:https://doaj.org/article/b5eebe913fe246bd90a3834c11eefa1d
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Descripción
Sumario:Nos últimos anos as transições demográficas e epidemiológicas impuseram novas exigências sobre prestação de serviços de saúde. Desafios como o envelhecimento da população, a mudança nos perfis de doenças, mudanças no panorama da área farmacêutica, geraram a necessidade da criação de novos modelos assistenciais para responder a estas demandas. Estas mudanças causaram um impacto sobre os diferentes setores da farmácia e na área da Farmácia Hospitalar houve a migração de um modelo que era focado nos produtos para um modelo de serviço focado no paciente. Em alguns países, no Brasil não é diferente, a farmácia hospitalar vem aprimorando as relações inter-profissionais com outros prestadores de cuidados de saúde. Mudanças ocorreram não só na prestação de serviços, mas também em outras esferas. Avanços na tecnologia, avanços científicos e os desenvolvimentos no campo da medicina têm contribuído significativamente para uma nova maneira de cuidar do paciente. A individualização total dos tratamentos medicamentosos que antes era um sonho passou a ser uma realidade com a introdução dos conhecimentos de farmacocinética clínica e farmacogenética, por exemplo. A medicina baseada em evidências e a farmacoeconomia, como um movimento, deixou de ser algo teórico e filosófico e passou a fazer parte de todos os serviços de saúde como rotina diária causando assim impactos na padronização de rotinas e protocolos farmacoterapêuticos. Outra mudança importante foi a maneira de encarar os diferentes níveis de atendimento a saúde, onde hoje os pacientes são visualizados como um todo, independente do atendimento primário, secundário, terciário ou até mesmo quaternário. O paciente que hoje está internado poderá ter alta e mudar o foco do atendimento do nível secundário para o primário, por exemplo, e vice-versa dependendo dos cuidados que ele recebe (ou deixa de receber). Neste contexto as ações clínicas do farmacêutico passam a permear todas as atividades da farmácia hospitalar. Atividades como a reconciliação farmacoterapêutica, a validação farmacêutica e a dupla checagem farmacoterapêutica passaram a ser exigidas pela alta administração de muitos hospitais e agências acreditadoras. Recentemente tive a oportunidade de visitar o Oeschner Center, em Nova Orleans –EUA, hospital de cerca de 600 leitos, onde haviam 80 farmacêuticos contratados, e destes 79 desempenhavam funções clínicas e apenas 1 função administrativas e técnicas, devido em grande parte ao direcionamento da instituição e forte presença da tecnologia e automação que permitem esse tipo de modelo farmacêutico hospitalar. No momento atual seria utópico pensar que todas as farmácias hospitalares poderiam passar do enfoque meramente logístico para um modelo focado na clínica. O modelo assistencial americano e de alguns países da Europa levaram a um novo patamar de reconhecimento e valorização profissional do farmacêutico, refletindo inclusive na remuneração. O patamar salarial de um farmacêutico hospitalar americano chega a 10 mil dólares mensais, e acima das diferenças com o mercado de trabalho brasileiro, o fosso com a realidade da farmácia hospitalar brasileira pode ser explicada com a qualificação, o direcionamento clínico das ações do farmacêutico e principalmente com a postura do profissional. Precisamos aceitar o desafio de mudarmos nosso modo de trabalhar e começar a focar no paciente em primeiro lugar, ao invés de se preocupar só com o medicamento. Essa visão do paciente deve estar em todas as fases do processo, desde a seleção, aquisição até a dispensação, não importando em que etapa do processo o farmacêutico atue. Todos são fundamentais em suas funções e precisam ter o cuidado como objetivo comum. A atenção primária à saúde vem ganhando espaço no mundo todo, e neste contexto o trabalho das Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Sistema de Saúde Pública, ambulatórios e consultórios médicos privados precisam também de uma assistência farmacêutica diferenciada. Não podemos deixar esse nível de atenção de fora da Farmácia Hospitalar Brasileira. Há mais de 10 anos o foco do trabalho do farmacêutico hospitalar tem mudado da visão simplista de dispensar medicamentos para o cuidado compreensivo do paciente. Separar as atividades clínicas das demais seria como cortarmos na carne a tentativa de fortalecer a área da farmácia hospitalar. Também é verdade que devemos desmistificar que o trabalho clínico em UBS e drogarias não teria nada a ver com a realidade hospitalar, pois o conceito atual é que o paciente é único, seja do nível primário ou do quaternário, dependendo apenas do momento de vida em que ele se encontra. O grande desafio é a integração dos diferentes modelos de cuidado do paciente e deve haver mecanismos de referência entre os diferentes níveis de cuidados para garantir a continuidade dos cuidados e